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Mensagem CENA-STE Dia Mundial do Teatro 2018 - Manuel Coelho
Mensagem Europeia do Dia Mundial do Teatro
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Notícias
 

Mensagem Europeia do Dia Mundial do Teatro
há +316 semanas
MENSAGEM DO DIA MUNDIAL DO TEATRO 2018
Europa
 
Simon McBurney, Reino Unido
Actor, escritor, director de cena e co-fundador do “Théâtre de Complicité”
 
A cerca de um quilómetro da costa da Cirenaica ao norte de Líbia existe um imponente refúgio rochoso de 80 metros de largura e 20 de altura. No dialecto local, tem o nome Hauh Fteah. Em 1951, a análise de datação do carbono 14 revelou ali uma ocupação humana contínua de, pelo menos, 100.000 anos. Um dos artefactos desenterrados foi uma flauta de osso, datada entre 40.000 e 70.000 anos.
Ainda criança, ao ouvir isto perguntei a meu pai:
“Eles tinham música?”
O meu pai sorriu.
“Tal como todas as comunidades humanas.”
 
O meu pai era um arqueólogo natural dos Estados Unidos, o primeiro a escavar em Hauh Fteah, na Cirenaica.
 
Sinto-me muito honrado e feliz por ser o representante europeu do Dia Mundial do Teatro deste ano.
 
Em 1963, o meu predecessor, o grande Arthur Miller disse, num momento em que a ameaça de guerra nuclear pairava sobre o mundo: “Quando somos chamados a escrever num momento onde os braços da diplomacia e da política são tão impotentes e fracos, o frágil mas por vezes amplo abraço da arte deve assumir a responsabilidade de manter unida a comunidade humana”.
 
O significado da palavra Drama vem do grego “dran” que significa “fazer”… e a palavra teatro que vem do termo grego “Theatron”, literalmente significa o “lugar de onde se assiste”. Um lugar não só de onde assistimos, mas também donde vemos, obtemos, entendemos. Há 2.400 anos, Polekleitos o Jovem desenhou o grande teatro de Epidauro. Com capacidade para 14.000 pessoas, a impressionante acústica deste espaço aberto é milagrosa. Um diálogo no centro do palco pode ser ouvido por todo o auditório de 14.000 lugares sentados. Como era hábito nos teatros gregos, quando se observava os actores, podia ver-se também a paisagem nas suas costas. Isto não só mostrava vários lugares ao mesmo tempo; a comunidade, o teatro e o mundo natural; como também unificava todas as eras. Da mesma forma que a obra evocava no presente mitos do passado, estava presente, para além do cenário, o teu futuro final. A Natureza.
 
Uma das revelações mais importantes da reconstrução do Globe de Shakespeare em Londres está também relacionada com o que podemos ver. Esta revelação tem a ver com a luz. Tanto o palco como o auditório eram iluminados por igual. Os artistas e o público podiam ver-se mutuamente. Sempre. De qualquer ponto se vêem  pessoas. Por isso ocorre-nos que os grandes solilóquios de, Hamlet ou Macbeth eram debates públicos e não meditações privadas.
 
Vivemos num tempo em que é difícil ver com clareza. Vivemos uma ficção, mais do que em qualquer outro momento da História ou da Pré-história. Qualquer “estória” pode ser questionada, qualquer relato pode chamar a nossa atenção, como uma “verdade”. Vivemos sempre uma ficção em particular. Aquela que procura afastar-nos. Da verdade. E uns dos outros. E assim, vivemos afastados. As pessoas das pessoas. As mulheres dos homens. Os seres humanos da Natureza.
 
Mas se por um lado vivemos num tempo de divisão e fragmentação, por outro vivemos num tempo de intenso movimento. Como nunca antes na história, as pessoas estão a deslocar-se; muitas vezes voando, caminhando, nadando se necessário; migrando por todo o mundo. E isto é apenas o início. A resposta, como sabemos, é o encerramento de fronteiras. A construção de muros. A exclusão. O isolamento. Vivemos numa ordem mundial tirânica, onde a indiferença é moeda e a esperança uma carga de contrabando. Parte desta tirania é o controlo, não só do espaço, mas também do tempo. Este tempo em que vivemos renuncia o presente. Concentra-se no passado recente e no futuro. Não tenho isto. Vou comprar aquilo.
 
Depois terei que comprar a próxima... coisa. O passado distante é destruído. O futuro, sem consequências.
 
Muitos afirmam que o teatro não pode nem poderá alterar isto. Mas o teatro não vai desaparecer. Porque o teatro é um lugar. Gostaria de chamar-lhe refúgio. Onde as pessoas se reúnem e imediatamente formam comunidades. Como sempre fizemos.
Todos Os teatros são do tamanho das primeiras comunidades humanas, de cinquenta a 14.000 almas. Desde uma caravana de nómadas a um terço da antiga Atenas.
 
Dado que o teatro apenas existe no presente, também questiona esta desastrosa visão do tempo. O momento presente é sempre um tema do teatro. Os seus significados constroem-se mediante um acto comunitário entre o intérprete e o público. Não só aqui e agora. Sem a actuação do intérprete, o público não poderia crer. Sem a crença do público, a interpretação não seria completa. Rimo-nos ao mesmo tempo. Comovemo-nos. Somos arrebatados ou emudecemos. E nesse momento, através do teatro descobrimos a mais profunda verdade: que aquilo que considerávamos a mais privada divisão entre nós, os limites da nossa própria consciência individual, também não tem fronteiras. É algo que partilhamos.
 
E não nos podem parar. Voltamos todas as noites. Todas as noites os actores e o público voltam a reunir-se para representarem a mesma obra. Porque, como disse o escritor John Berge, “Na natureza do teatro há um sentido de retorno ritual”, a razão pela qual foi sempre a forma de arte dos despojados; algo que, por causa do desmantelamento do nosso mundo, é o que somos. Onde quer que existam intérpretes e audiências, as estórias que não se podem contar em nenhum outro sítio serão representadas, seja em óperas e teatros nas nossas grandes cidades, ou em campos que acolhem migrantes e refugiados no norte da Líbia e em todo o mundo. Estaremos sempre unidos, em comunidade, nesta representação. 
 
E se estivéssemos em Epidauro poderíamos levantar os olhos e ver como partilhamos tudo isto com uma paisagem ainda maior. Porque somos sempre parte da Natureza; condição a que não podemos escapar, a de fazermos parte deste planeta. No Globe veríamos como perguntas aparentemente privadas se colocam a todos nós. Com a flauta cirenaica de há 40.000 anos compreenderíamos como passado e futuro são indivisíveis e que a cadeia que une a comunidade humana nunca será quebrada por tiranos e demagogos.

Tradução: João Almeida

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