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Guimarães, Greenaway e o trabalho gratuito
há 595 semanas

E quando achamos que já nada nos pode espantar, eis que mais casos casos de abusos e aproveitamentos laborais vão aparecendo com contornos ainda mais preocupantes. Desta vez a história volta a passar-se em Guimarães, onde a Capital Europeia da Cultura deu várias dezenas de milhares de euros a Peter Greenaway para que ele produzisse uma curta-metragem. Até aqui tudo normal, mas nos últimos dias, várias têm sido as denúncias feitas nas redes sociais e directamente ao CENA. 

É que depois de os actores e as actrizes se terem deslocado ao casting que teve lugar em Guimarães, Peter Greenaway escolheu aqueles com quem queria trabalhar, e é nesta altura que os escolhidos são informados da boa nova, mas com um pequeno senão, é que o trabalho seria completamente gratuito, aos actores que se deslocassem do Sul ainda haveria, a muito esforço, lugar ao pagamento das deslocações e do alojamento, mas os actores do Norte do país nem a isso teriam direito. 

No meio desta trapalhada há um dado positivo, é que os profissionais escolhidos para esta produção estão a recusar-se a trabalhar gratuitamente, e pelos vistos a curta-metragem será agora rodada com actores portugueses amadores. 

O CENA entende como inaceitável o facto de haver castings onde os profissionais que neles queiram participar não sejam previamente avisados que o trabalho em questão não dará direito a cachet, e lamentamos que esta situação se passe numa produção que certamente terá algum relevo mediático e que a CEC 2012 esteja novamente ligada a um caso de abuso e aproveitamento laboral.

Este caso vem demonstrar o estado de total insustentabilidade laboral e económica que se vive no cinema em Portugal. São inúmeros os casos de denúncias por falta de pagamentos de cachets, em filmes que estreiam como se nada se tivesse passado. Relembramos que o CENA já tornou pública a exigência de que a regulamentação da nova "Lei do Cinema" inclua uma claúsula em que as produtoras tenham de provar que estão a cumprir com os pagamentos devidos aos profissionais e que, quando tal não se verifique, os apoios futuros lhes sejam negados. Exigimos também que todos os profissionais estejam protegidos pela assinatura de contratos por escrito - quer nos casos de trabalho por conta de outrem quer nos casos de contratos de prestação de serviços - onde estejam explícita a descrição do trabalho, horários, remuneração e outras informações básicas.

Pedimos a todos e a todas as profissionais que nos façam chegar denúncias dos casos de incumprimentos de pagamentos bem como de casting que não explicitem a inexistência de cachet, só assim podemos ser mais efectivos na batalha contra estas situações.